Desafio de escrita #1

O mapa, a máquina fotográfica e o cogumelo

Escolhi 3 dados aleatoriamente, para ilustrar um post… acabou por virar um desafio de escrita!

Naquela tarde, sai para uma caminhada despretensiosa. Escolhi caminhos aleatórios, para conhecer melhor a região. O céu azul, o vento fresco de outono, folhas estaladiças pelo chão… Foi o cheiro de mato que me guiou até um bosque próximo, logo depois do parque, a alguns metros da minha rua. Por ser em uma direção oposta a que tomo todos os dias, aquele lugar era completamente novo pra mim.

Distraída, segui pela trilha aberta por outros passos, e quando dei por mim já estava a vaguear por entre as árvores. O sol fraco trespassava os galhos e emprestava um brilho diferente às folhas amareladas pela estação. Pequenos insetos voadores cruzavam meu caminho e o barulho da cidade ficava cada vez mais distante.

Gosto de caminhar para pensar. Assim consigo me desligar das questões do dia a dia. É um processo de descolamento da realidade, e ao mesmo tempo, um mergulho no meu eu-interior.

O bosque não era muito denso, o que permitia que eu mantivesse o parque sob o olhar, a alguns metros de distância. Apesar de estar sozinha em um local até então desconhecido, não sentia medo, mas a liberdade de estar na natureza.

Parei, observei ao redor, e foquei a atenção em uma das maiores árvores dali. Não muito grande, mas o suficiente para se destacar. Ainda não tinha perdido todas as suas folhas, mas anunciava que o outono já ia ao meio. No chão, muitas folhas de múltiplos tons, do amarelo ao castanho. Mas algo em seu tronco gritava por atenção, prendendo o meu olhar: os mais estranhos cogulemos que já vi salpicavam o tronco da árvore como degraus, subindo em círculos, e conferiam ao momento uma atmosfera mágica, extranatural, quase a retirar aquele lugar do mapa real, e transportá-lo para alguma terra mítica, fantástica das histórias infantis.

Sorte a minha que os telemóveis há tempos são verdadeiras máquinas fotográficas, com suas lentes XPTO. Saquei uma foto, com medo de que aquele instante se perdesse na minha memória. Depois de retornar a casa, esta tarde seria história, e as preocupações quotidianas seguiriam seu curso. Entretanto, aquela cena estaria ali, impressa, emoldurada na parede, como um portal pronto a me levar de volta aquele tempo quimérico.