Estamos juntos!

 

Por algum tempo, eu me sentia única – mas de uma maneira estranha. Eu me sentia inadequada. E acreditava que só eu era assim.

Aprendi a escrever para organizar os pensamentos. Ao colocá-los para fora, mudava a perspectiva e era capaz (ainda sou) de ordená-los de maneira mais eficiente. Isso sempre funcionou para mim. Até se tornar um hábito de limpeza ~mental~, como escovar os dentes.

Um dia, há muito tempo, resolvi publicar um blog e o chamei de “Pensamento Acidental – o que penso, quando penso“. O compromisso era não ter compromissos: de tema, de dias certos para postagens, ou quaisquer regras preestabelecidas. Isso porque sempre fui meio anárquica, eu acho.

Quando escrevia meus sentimentos, medos e angústias sob o manto protetor da “ficção” em contos e poesias, comecei a receber emails e comentários de outras pessoas que juravam que eu falava delas. Percebi que minha inadequação, minhas particularidades não eram tão únicas assim… Várias outras pessoas sofriam do mesmo, viviam com as mesmas angústias.

Depois de um tempo, comecei a ver com encanto o quanto somos tão iguais e tão diferentes.

Um dia, voltei a achar que “isso – desse jeito – só acontece comigo!”.
Mas, desta vez, eu estava doente.

A vida começou a não fazer sentido, os dias perderam a cor, a luz virou sombra. Só sabia chorar e me encolher. Esquecia das coisas, não conseguia pensar, nem escrever. E logo eu, que falava sobre os mais diversos assuntos e adorava um bate papo, já não conseguia conversar! Eu me sentia tão desinteressante, que me faltavam palavras! Eu estava com depressão.

Comecei a achar que estava fazendo corpo mole para determinadas coisas, que andava preguiçosa e procrastinadora demais. E me envergonhei por isso. É claro que no início, eu tentei esconder de todos o que eu sentia. E, posso dizer, fui muito boa nisso, porque escondi até de mim mesma. Quer dizer, hoje eu acho que alguns amigos mais atentos perceberam que as coisas não estavam tão bem assim…

Segui anestesiada por um tempo. Até que me faltaram forças. E eu cai.

Psiquiátra, psicólogo, neurologista, e alguns tarjas pretas fizeram parte da minha rotina. Ouvi até médico dizer que era falta do que fazer, cabeça vazia demais! (Oi?) Eu sabia que precisava de ajuda, por isso contei para alguns poucos amigos, embora eu ainda me sentisse muito envergonhada. Estava fraca e odiava isso!

Aos poucos fui me entendendo e fazendo as pazes comigo. Percebi que a doença também me trouxe uma ótima oportunidade de repensar a vida, mudar várias coisas que não valiam mais. Voltei a me sentir leve! As cores, o brilho e a luz voltaram. Depois de quase um ano de tratamento, recebi alta da medicação. Isso foi em dezembro de 2014.

De um tempo para cá, tenho pensado que a útima etapa deste longo tratamento é a exposição pública.

Era preciso contar pra todo mundo sobre esse período turbulento, sem grandes emoções. Esta seria uma maneira de saber – de fato! – que ele ficou no passado.

Falar abertamente sobre a minha depressão é também uma forma de dizer para várias outras pessoas que elas não estão sozinhas. E assim, numa corrente do bem, tentar explicar para tantas outras de que a depressão não é uma frescurinha, não é cabeça vazia ou falta de louça para lavar!

Falar abertamente sobre a minha depressão é a minha maneira de te estender a mão e falar: – “vem! Estamos juntos nisso! Vá procurar um médico, vai se tratar, e se quiser, tô aqui para te escutar. Para trocar umas ideias”.

Se eu sobrevivi e estou mais forte, você também pode. Afinal, somos tão iguais: humanos!

 

Pára tudo!

Estava lá, no meu iGoogle

Procuro estar antenada com tudo o que acontece por aí, que mal tenho tempo pra acompanhar as novidades. O meu maior medo: ficar ultrapassada. Tem vezes que penso ser uma esponja, por absorver conhecimento de todas as fontes – mais pareço a Rádio Relógio com o seu pontuado “você sabia?”… informação útil para tudo o que é futilidade.

E a tal Síndrome da Urgência, identificada por Covey, que me consome? Raios!

Pra minha sorte, na minha rede também cai pílulas de pausa – esse texto foi quase um sossega-leão, pra dizer a verdade. Dizem ser do rabino Nilton Bonder, mas não consegui atestar sua autoria. Vale do mesmo jeito. Pelo menos, pra mim!

Domingos precisam de feriado

Toda sexta-feira à noite começa o shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino, no sétimo dia da Criação.

Muito além de uma proposta de trabalho, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo.

A noite é pausa,
o inverno é pausa,
mesmo a morte é pausa.

Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.

Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.

Hoje, o tempo de ‘pausa’ é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações ‘para não nos ocuparmos’. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.

O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições. Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia.

Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo…

Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme.

As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.

Mas, as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente.

As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado…

Nossos namorados querem ‘ficar’, trocando o ‘ser’ pelo ‘estar’.

Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI – um dia seremos nossos?

Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.

Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco.
Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos…

Parar não é interromper.
Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.

O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair – literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida.

A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é ‘o que vamos fazer hoje?’ – já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de domingo.

Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande ‘radical livre’ que envelhece nossa alegria – o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.

Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.

Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.