A história recriada, ou Um Tributo a Todos os Homens.

Essa é a história da amiga de um amigo meu. Ela me foi contada em uma noite chuvosa, depois de muitos drinks a mais, na mesa de um bar, durante uma nada inocente brincadeira chamada “verdade ou consequência”. Éramos sete ou oito amigos bebendo depois do trabalho. As revelações eram picantes, mas em nada diferentes do cardápio já conhecido e praticado por todos. Até a pergunta corriqueira surgir: fetiche, qual o seu?

Rimos muito com as respostas, imaginamos umas cenas estranhas e não sei bem por qual motivo, a brincadeira desviou um pouco, deu uma esfriada e quase morreu, até que Carlos colocou o assunto em pauta:
– Uma amiga, e não vou dizer o nome, me confidenciou que só goza quando transa com estranhos…

Entre gargalhadas desconcertadas, respondemos que quase todo mundo ali, pelo menos uma vez na vida, já tinha dado para um estranho.

– Estranho completo, gente. Escolhido quase que aleatoriamente, completou Carlos e continuou: – é, ela me disse que se arruma toda, sai por aí e, quando esbarra em um cara desacompanhado, sugere um sexo rápido. Ela diz não ter padrões nem preferências. Só repara na mão do sujeito e confere os cuidados com a higiene pessoal. (pelo menos isso, falamos!) Diz que goza como nunca gozou com namorados ou amantes… Que é uma coisa selvagem, sei lá, ela nem sabe explicar direito.

Manel cortou o assunto quando chegou com a última rodada e a conta. Uma galera, constrangida e excitada, resolveu aproveitar a deixa e ir embora. O que fez a mesa toda se despedir e programar um próximo encontro, para saber mais detalhes das aventuras da tal amiga do Carlos.

Eu morava muito perto para pegar um taxi, por isso resolvi caminhar pelos quatro quarteirões até em casa. Não pensei mais no assunto, que ficou esquecido em algum lugar na minha mente. Dormi e sonhei cenas obscuras, tensas, quentes. Acordei suada e ofegante, mas sem lembrar direito o que havia sonhado. No resto da noite, até o amanhecer, foi um sono pesado.

Nem preciso dizer que acordei atrasada para o trabalho. Ducha rápida, café devorado em segundos, e num pulo já estava no primeiro ônibus que passou.

Quando ele subiu um ponto depois, foi o meu nariz quem o sentiu primeiro. Um cheiro de macho, sabe? Nem alto nem baixo, de jeans, camiseta, mochila. A barba por fazer ressaltava o queixo. Levemente moreno, cabelos curtos, e olhar cansado. Ele não era nada demais. Não chamava atenção. Não sei porque o vi. Muito menos porque me interessei por ele.

A história da noite passada me tirou daquele transe. – Credo, pensei, o que deu em mim? – e ri sem graça.

Perdi meu ponto e tive que caminhar dois quarteirões… Eu estava impressionada demais. Reparava em cada espécime masculino que cruzava meu caminho. Estranhamente, me excitava pensar como seria ser tocada por cada um deles. Como seria a pegada, a pressão das mãos nos meus braços? Qual seria a posição preferida? De que jeito beijavam? E que gosto teriam na boca? Como reagiriam no momento do gozo?

Naquele percurso de cinco minutos, me perdi a observar esses homens tão comuns que se aglomeram nos bares de esquinas, ou nas calçadas a esperar o sinal abrir. Homens que não frequentam a balada do momento, mas se reúnem na frente de uma TV para ver o jogo começar. Homens que viram o pescoço para acompanhar o andar rebolativo de qualquer mulher.

São canalhas, cretinos, santinhos, bons moços. Trabalhadores, desempregados, folgados, caretas. Nerds, surfistas, roqueiros, sem jeito. Suados, cansados, malhados. Homens no gênero, na essência, na marra. Cada um de um jeito singular. Mas todos meninos-moleque na cama, quando dentro de uma mulher.