Quando pensei em vestir um “uniforme“, a primeira pessoa com quem conversei foi a consultora de estilo Carla San. É claro que ela pediu para pensar um pouco, porque ninguém em sã consciência, ainda mais trabalhando com estilo, aceitaria vestir um uniforme por seis longos meses, não sem pensar muito a respeito.
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Só que o meu momento era aquele. Mudar radicalmente era imperativo. Eu precisava fazer algo muito diferente do meu normal. E o meu normal até então era o animal print, as cores misturadas em estampas gigantes, os étnicos, as listras, os poás e os florais.
Vestir só preto tem me deixado entediada. Talvez, com o friozinho chegando, as cores dos lenços me animem um pouco. Talvez… Pensei que faria mais selfies, com os looks do dia. Todavia, a motivação para tal nem deu um segundo suspiro: morreu em frente ao espelho, ao constatar a monotonia do reflexo.
Mas por que raios eu decidi usar um uniforme?
Não sei. Quer dizer, eu imaginava que seria muito mais fácil me arrumar, que o armário quase vazio (eram mais de 60 cabides!) me traria uma certa paz. E trouxe. Só que ela não é a minha praia! Eu gosto do caos (não me lembrava disso!).
Roupa é statement.
Roupa é a afirmação da sua personalidade, uma declaração de quem é você na fila do pão. Mesmo que você opte por não declarar nada. Não tem como fugir.
Ao me privar das minhas afirmações inconscientes (nunca pensei tão abertamente em quais imagens gostaria de passar com o meu vestir), eu tenho pensando mais em quem eu sou. Também tenho me arrumado em 5 minutos, já que não tenho como escolher algo diferente do combo blusa preta + calça jeans (ou calça preta). Prestar mais atenção às escolhas das outras pessoas tem sido meu passatempo favorito. E quase não vejo vitrine, coisa que fazia com os olhos lânguidos de desejo – perdi o tesão. Vez ou outra me pego divagando sobre que guarda-roupa terei ao terminar o projeto… calça de alfaiataria, corte reto, com t-shirt branca e algumas saias midi estampadas? Algo mais clássico-retrô com algumas peças coringa, ou assumir de vez meu lado over a la Iris Apfel?
É engraçado você se privar de algo por escolha própria – não é um fardo, é uma experiência interessante de auto-conhecimento. Algo como um detox, uma purificação quase religiosa. Eu, aquela extravagante, agora visto algo comedido. Posso até reclamar de tédio, mas me sinto leve.