O ano passou num piscar d’olhos… é a frase mais batida que ouço por aí. Mas, concordo: é verdade.
E na correria, deixei de dizer muita coisa que penso, porque teria que me aprofundar nas explicações e, sem elas, passaria por leviana, hipócrita e cria-caso! Confesso que fiquei com preguiça. Muita. Porque não deveria dar explicações, já que a obviedade é uma gritante na situação.
Estou com preguiça também dos dedos na cara, das vias de mão única, do direito que bate no peito mas não olha o rabo. Estou cansada! E com isso, sinto que perco espaço, que não me encaixo… não pertenço. Só que esta não é uma preguiça triste, já que ganho liberdade, leveza, congruência – e me sinto viva, inteira.
Pode até ser que um dia ainda leve um tapa na cara. Mas, eu devolvo, viu?!
Os políticos são o câncer do Brasil
Corruptos, sem a menor força política – ou de vontade! – para representar quem deveriam. Fazem pouco do país e do seu povo. Embora muito empenhados na busca pela resposta à principal questão que os levou ao poder: – “O que eu ganho com isso?”
E o cidadão-médio, indignado, faz revoluções semanais no Twitter e no Facebook. Marca eventos que nunca sairão do virtual só para mostrar a força que tem.
Acontece que foi este cidadão-médio que votou no político corrupto. Por falta de escolha, ignorância, burrice, preguiça, ingenuidade, implicância ou sei-lá-o-quê.
Esse mesmo cidadão-médio que fica indignado ao ver, do seu sofá de couro (fake), o Willian Bonner, na TV LED LCD 55″ Full HD, apresentar o escândalo da hora, em detalhes do dia a dia, dos anos de investigação e operações especiais da inteligência da polícia, batizadas com codinomes intelectuais ou mitológicos.
Esse cidadão-médio clama por justiça. Diz não ser palhaço. A sua voz ganha volume, e junto com seus iguais pode até tomar as ruas, em protesto arrastado pelo asfalto no Centro da Cidade.
Já imaginou a cena? Então para aqui.
Vamos mudar os cenários para eu tentar mostrar o porquê da minha preguiça,
e fazer um paralelo (que espero ser) desnecessário.
O cidadão-médio, sob a Lei de Gerson
Alguém veste uma camiseta com os dizeres de um senhor do passado, dito maluco pelos seus ares de profeta. Gentileza era sua alcunha. Pregava fraternidade, bem-viver. Tentativa sua de resgatar a humanidade perdida em uma viagem ególatra a la LDS. Gentileza pintava muros, querendo derrubá-los. Bordava bandeiras, símbolos-pretensos de uma Companhia de Homens Gentis.
Esse alguém tem a mão na buzina, como a gritar um dicionário inteiro de palavras de baixo calão, na intenção de repreender, xingar, humilhar, colocar no devido lugar um outro cidadão-médio que parou em lugar proibido, por falta de vaga, cara de pau, ignorância, sem-vergonhice ou direito-torto adquirido por ter pago alguns dos impostos devidos.
Alguém ouve sua música preferida, no mais alto volume, em seu celular último modelo, importado da China, no coletivo automotor. A certeza do seu direito é tanta, que levanta o nariz para todos que lhe mostram caras de reprovação. Se for o caso, bate no peito. No seu próprio e no do outro, em distintas demonstrações de poder.
Alguém esvazia os bolsos, a bolsa, deixando no caminho um rastro de lixo. Porque a rua é suja mesmo. Todo mundo faz. Um papel a menos não fará diferença. E, afinal, os garis precisam de emprego! O governo que varra essa sujeira para dentro dos bueiros. Ora!
Alguém joga o troco do pão. Mas, também… dormiu muito mal e acordou com pesadelos! Esperou o neto voltar do baile e, valha-me Deus, que ele não esteja caindo de tão drogado, ‘ssemenino, irresponsável, alimentando o crime, Senhor! No pesadelo, a cobra, Satanás (tá amarrado!), é a chance de uma graninha extra, cercada por todos os lados, devidamente carimbados pelo anotador do bar da esquina.
Alguém tenta um esquema para pagar menos.
Alguém fala com o amigo do tio, na esperança de furar a fila e chegar antes.
Alguém consegue economizar porque agora paga meia nos cinemas, shows e peças de teatro, pessoa culta, não dispensa cultura com desconto. Porque, afinal, não era para ser tão caro assim…
Alguém pega, sem consentimento, alguma coisa de outra pessoa. E a consciência alega que são tantas as coisas, que não fará falta. Nem notará, não é mesmo?
Agora, se muda a dinâmica, peraí!, não é bem assim… tem uma explicação. É importante. Eu preciso. E, normalmente, o Eu preciso é tão forte, que o outro fica pequenininho por comparação. Aí dá para passar por cima. Porque o mundo é assim mesmo: farinha pouca, meu pirão primeiro.
Favor, só se for a meu favor. Gentileza, você precisa; eu, nem tanto. Sabe com quem está falando?
Faço o que posso. E dou um jeitinho no que não posso.
Agora, voltemos aos políticos…
Estes precisavam ser de outra raça! Criados por Alguém, passam de cidadão-médio à excelência, ganham oportunidade e horizontes mais largos. Partem para uma vida nada mundana – cheia de direitos, títulos e autoridade. Se, no passado agiram como alguém, no novo cargo suas chances serão ainda maiores e justificadas, afinal.
Aos olhos do cidadão-médio, perdem a humanidade, a referência, a similaridade…
O cidadão-médio, tal qual macaco, aponta o dedo, mas não vê o próprio rabo.
[list5]Imagem: Jannike, Deviantart[/list5]
Que bom que voltou a escrever aqui. Que pena que seu texto faça tanto sentido. O tal homem-médio é um retrato triste de quem o brasileiro tem se tornado.
Tom, é meu exercício diário a tentativa de superar a média – da carteirinha de estudante ao golpe do torrent…
Sinto muito ver deturpada a competição – se é que algum dia já foi saudável. Hoje, a instaurada é tão medíocre quanto os tais homens.
Espero destilar o fel, sem contaminar o sabor das minhas palavras.
Eu estava com saudade de escrever – a necessidade estava atingindo níveis de urgência!
=*
Compartilho, de forma profunda, dos sentimentos e sensações extravasados neste post
Aliás, veja só, vejo os mesmos sintomas de vontade de calar-se e não deitar mais pérolas à porcos que são evidentes também no meu blog, hoje também com postagens bissextas. Com a diferença que você escreve melhor e ainda se permitiu extravasar, euquanto eu, ultimamente, ando falando somente à superfície, pois cansei de mergulhar em lagos rasos e quebrar a cara, cabeça e espírito.
Oxalá encontremos, como predizia Lulu Santos: “um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera.”
‘braços
Celso Bessa