Quando o Tempo me toma…

Ando pensando sobre o Tempo. Indagações filosóficas, até. Outras, de tão práticas, chegam a ser chatas. Um misto de nostalgia, saudade, preocupação, leveza, fantasia… são tantos os sentimentos misturados, que ainda não cheguei a uma conclusão sequer.

Aos 36 anos, o que fiz da minha vida?

Olho no espelho e vejo alguém tão jovem, tão imatura! Alguém que ainda tem uma vida inteira pela frente. Que precisa aprender a ser paciente. Mais incisiva. Determinada, porém leve.

Olho pra dentro e enxergo alguém tão impulsiva a ponto de ser a mais infantil criatura da face da terra! Cresça! É o imperativo que mais me ouço dizer.

Olho pra trás e… Penso que poderia ter feito mais. Construído coisas de fato. Plantei árvores, é verdade. Só imaginei o livro que quero escrever. Multipliquei-me e de mim veio João.

Olho pra frente e ainda não consigo pré-ver o caminho. (O que é perfeitamente natural, o que quero dizer é que não tenho um plano. Nem de Previdência Privada, que faça os dias porvir um pouco mais coloridos.)

Nessas horas, implico com minha impulsividade.

Mas, não é ela mesma a minha maior marca de espontaneidade?

Queria escrever sobre algo que li na Revista de domingo, d’O Globo. Acho que Martha Medeiros escreveu sobre a “pior vontade de viver”. Pra pegar a fonte correta, joguei no Google e (re)descobri Clarice. Tomo as palavras dela. Agora são minhas também.

Clarice Lispector por ela mesma:
o temperamento impulsivo.

Organizado por Pedro Karp Vasquez.


“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. […] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”

O valor da amizade

Quanto vale um amigo?

É sério. Pode colocar um preço. Pense em algo justo. Quanto você cobraria por uma hora da sua amizade? Ou então, quanto você pagaria ao seu best friend por todo tempo e dedicação, pelos momentos, conselhos, toques e insights?

Pode pensar aí…

Enquanto isso, eu vou preparando aqui o meu anúncio.
É… vou apostar neste nicho de mercado, tão pouco explorado (ainda!). Acho que, com o meu currículo, posso ser TOP 5 em pouco tempo.

Pra quem acha que fui criativa além da conta, perdi a chance. Chegaram antes de mim:

Foram sete. Eu contei.


Sete dias sem escrever.
Hummm… Dizem que 7 é um número cabalístico.
Vou jogar no Google.

Mas, só pra explicar: estou naquela época do mês – dias de ficar acorrentada-ao-pé-da-mesa… serão sete ou mais dias cheios de trabalhos pra ontem.

Depois ganho mais sete dias pra ficar livre, leve e solta.

Eu volto.

A Princesa de Fausto

Num passado distante
sua vida foi marcada pelo luxo.

Ela despertou desejos.
Atiçou a cobiça.
Superou a inveja.
Alimentou fantasias.

Ela se acostumou a reverências
acreditou na lisonja.
Confiou na eternidade.

E assim, por um tempo, prosperou.

Uma época de glórias.
Ela foi princesa,
Dama em uma corte de costumes.

Hoje, as muitas lembranças
estão gravadas na mente
e nas fotos desbotadas da parede.

O presente é feito de lixo
a decadência bateu à porta
e seu reino se transformou.

Em comum, passado e presente
têm a luz quente das festas.
Antes, grandes salões de baile,
hoje, disputadas esquinas mal-iluminadas.

De princesa, Copacabana passou a cafetina.
Nas areias, os playboys agora são piratas.

  • foto Paulo Salerno, produção de Leo Levi – mais fotos de-li-ci-o-sas no link. É só clicar.*

O bom e velho Português

Aprendi a escrever com uma professora fantástica. Magda era severa, mas divertidíssima. Foi minha mestra já no segundo grau [ou deveria escrever ensino médio?] e me preparou para o magistério.

Confesso que hoje, décadas depois, mal recordo tantas regras. O escrever é intuitivo e de ouvido, sabe? Se soa bem, está certo. Mas, em alguns casos, recorro às regras do bom e velho português para defender o meu texto.

Preciso dizer: vírgula não é orégano, como muitos insistem em pensar. Salpicam as tais pelo texto na tentativa de dar mais sabor aos parágrafos. Outros tantos acreditam piamente que ela, a coitada, é uma simples pontuação de respiração. Então, um texto para um nadador mal precisa delas, enquanto o para um fumante inveterado pede, ansioso, vírgulas a cada palavra. Respirar é função do nariz. Vai lá, pode usar a boca também. Mas não é a vírgula que vai fazer você respirar melhor. E ponto. Mas, não o parágrafo, entende?

Outro aspecto para pensarmos: o dois-pontos foi banido dos escritos. Reaprendi a usá-lo em A Louca da Casa, da escritora espanhola Rosa Monteiro. Fiquei apaixonada pelo dois-pontos. Sua função: enumerar vários aspectos do pensamento ou declarar qualquer coisa necessária. Só para citar dois empregos pertinentes.

Já o pobre do gerúndio, meu deus, nadou, nadou, e acabou morrendo na praia do telemarketing. De tão usado, o processo se estendeu e os mais explosivos o cortaram de vez. Mas, vamos combinar, né?! Quem é que usa indicativo, subjuntivo e imperativo corretamente? São tantos os tempos verbais, que estou pra conhecer Cristo que conjugue com maestria: Presente do Indicativo, Pretérito Perfeito, Pretérito Imperfeito do Indicativo, Pretérito Mais-que-Perfeito, Futuro do Presente, Futuro do Pretérito, Presente do Subjuntivo, Pretérito Imperfeito do Subjuntivo, Futuro do Subjuntivo, Imperativo Afirmativo e Negativo, Infinitivo Pessoal, Gerúndio e Particípio. [Ufa!]

Não sou ás no português. Concordo que temos diversas pegadinhas – as tais exceções às regras. A Última Flor do Lácio não é lá uma flor-que-se-cheire. Mas, também, não é um bicho-de-sete-cabeças. Na maioria das vezes, uma ida ao dicionário ou à gramática já ajuda. E muito. Ponto-final.