No meio do meu caminho

 

 

 

É incrível. Mas uma chuvinha de nada já atrapalha horrores a vida de quem tem que passar pela Lagoa. A rua vira rio. Os carros levantam água. A gente sofre.

Como é que eu vou sã e salva pra casa, agora?

Acabei de tirar essas fotitas… [é, a máquina fica sempre na bolsa – coisas de quem é addict!]

Ouço você

Ele chegou de mansinho,
calmo, com seu jeito de menino,
olhar vivo e curioso

Ele falou da vida
cantou baixinho
flertou comigo

Ontem, ouvi um “Eu te amo”
com gosto doce de morangos maduros.

Paixão nascente, eu sei.

Repete baixinho, vai… isso é música para os meus ouvidos.

Cuidado: P.O.I.S.O.N.


Palavras bonitas, muitas vezes, são venenos disfarçados.

Ontem, ouvi um “Eu te amo”
O gosto amargo lembrava amêndoas.

Cianureto, agora eu sei.

Desceu queimando, goela abaixo.
Aniquilando sonhos possíveis.

Carete de amor,
acreditei naquelas palavras…
Íons CN mataram minha realidade desenhada.

Eu não sou reativa

Certa vez, acompanhava um amigo à banca de jornal. Meu amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente mas, como retorno, recebeu um tratamento rude e grosseiro. Pegando o jornal que foi atirado em sua direção, meu amigo sorriu polidamente e desejou um bom fim de semana ao jornaleiro. Quando descemos pela rua, perguntei:

– Ele sempre te trata com tanta grosseria?
– Sim, infelizmente é sempre assim.
– E você é sempre tão polido e amigável com ele?
– Sim, sou.
– Por que você é tão educado, já que ele é tão inamistoso com você?
Porque não quero que ele decida como eu devo agir.

[Não é o ambiente que nos transforma, mas nós que transformamos o ambiente].

Adaptação do original de John Powell.

Atalhos

Estava pensando em como construir um atalho… aí, entre muitos textos que leio todos os dias, descobri esse aí. Nem preciso dizer que serviu feito luva.

Atalhos

Quanto tempo a gente perde na vida? Se somarmos todos os minutos jogados fora, perdemos anos inteiros. Depois de nascer, a gente demora pra falar, demora pra caminhar, aí mais tarde demora pra entender certas coisas, demora pra dar o braço a torcer. Viramos adolescentes teimosos e dramáticos. Levamos um século para aceitar o fim de uma relação, e outro século para abrir a guarda para um novo amor, e já adultos demoramos para dizer a alguém o que sentimos, demoramos para perdoar um amigo, demoramos para tomar uma decisão. Até que um dia a gente faz aniversário. 37 anos. Ou 41. Talvez 48. Uma idade qualquer que esteja no meio do trajeto. E a gente descobre que o tempo não pode continuar sendo desperdiçado. Fazendo uma analogia com o futebol, é como se a gente estivesse com o jogo empatado no segundo tempo e ainda se desse ao luxo de atrasar a bola pro goleiro ou fazer tabelas desnecessárias. Que esbanjamento. Não falta muito pro jogo acabar. É preciso encontrar logo o caminho do gol.

Sem muita frescura, sem muito desgaste, sem muito discurso. Tudo o que a gente quer, depois de uma certa idade, é ir direto ao assunto. Excetuando-se no sexo, onde a rapidez não é louvada, pra todo o resto é melhor atalhar. E isso a gente só alcança com alguma vivência e maturidade.

Pessoas experientes já não cozinham em fogo brando, não esperam sentados, não ficam dando voltas e voltas, não necessitam percorrer todos os estágios. Queimam etapas. Não desperdiçam mais nada.

Uma pessoa é sempre bruta com você? Não é obrigatório conviver com ela.

O cara está enrolando muito? Beije-o primeiro.

A resposta do emprego ainda não veio? Procure outro enquanto espera.

Paciência só para o que importa de verdade. Paciência para ver a tarde cair. Paciência para sorver um cálice de vinho. Paciência para a música e para os livros. Paciência para escutar um amigo. Paciência para aquilo que vale nossa dedicação. Pra enrolação, atalho.

Martha Medeiros escreveu isso em algum lugar do passado.

Mudei.

Eu já estava acostumada com os velhos caminhos. [Todo dia ela faz tudo sempre igual…] Eu sabia das cores e dos cheiros e das sombras daquelas ruas que eu sempre atravessava. Conhecia as folhas nas calçadas, as janelas abertas, as portarias da avenida. Já conseguia prever os futuros vincos nos rostos que cruzavam meu caminho sem dizer bom-dia. Há tempos era tudo igual. Da mesma maneira eu seguia a vida, ignorava alguns desvios, inventava outros. Até ontem.

Dormi diferente. Acordei em um novo mundo, posso dizer. As caixas ainda estão lá. Mas a alma…

Hoje pela manhã, os barulhos eram outros. Até a luz era diferente. Sei que é um momento de transição. Muita coisa vai mudar ainda mais. Com certeza já posso dizer: estou ansiosa pelo que vem por aí.

Hoje pela manhã, os poucos segundos que me separavam do outro lado da calçada passaram em horas. Na cabeça, tantos pensamentos… meu ritmo é outro. Assim como as paisagens.

Hoje pela manhã, meu futuro começou novamente.